Nonato Guedes
Nas cogitações políticas em Brasília está em prioridade no radar do Palácio do Planalto uma solução que contemple o deputado federal Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, que está encerrando seu segundo período como comandante da Casa e que, desde o governo de Jair Bolsonaro, tem sido figura-chave no protagonismo do poder, evitando pautar requerimentos com pedido de impeachment de autoridades do Executivo e do Judiciário e interferindo de forma avassaladora na agenda de votações de matérias consideradas importantes para a própria governabilidade. Uma matéria publicada pela revista “Veja” indica que é complexo o desafio de definir a sorte de Lira no centro do poder. Ele pode ter o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu projeto de chegar ao Senado em 2026 – a dificuldade, até lá, é achar uma pasta grande o suficiente para acomodar o político alagoano na Esplanada dos Ministérios. A mais cotada é a da Saúde, que concentra o maior volume de emendas e que sempre foi alvo de cobiça do presidente da Câmara, pivô dos embates dele com o ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais.
Como informa “Veja”, até mesmo aliados do presidente do Legislativo veem com ressalvas a possibilidade de ele ser ministro. Uma alternativa a isso seria Arthur Lira indicar alguém para a Saúde. Em 2021, ele tentou emplacar a doutora Ludhmila Hajjar para a pasta, mas a cardiologista foi vetada pelo então presidente Jair Bolsonaro, que acabou convocando o médico paraibano Marcelo Queiroga para substituir o general Eduardo Pazuello, que estava à frente do cargo. Um aliado revela que Arthur Lira deseja manter sua influência sobre as emendas e no governo, e palpita que a opção mais viável seria um cargo alto em uma estatal. Caso o namoro com o governo não avance, Lira tem um outro caminho para manter um bom naco de poder. Ele pode permanecer na Câmara e tentar voltar a liderar um grande bloco de deputados, função que exerceu informalmente e que o projetou como líder do Centrão durante o governo Bolsonaro, o que, mais tarde, o alçaria à presidência da Câmara. Na época, o grupo sob sua influência incluía partidos como o PP, PL, PSD, MDB, DEM, PTB, PROS, Solidariedade e Avante.
Lira poderia assumir, ainda, a frente de uma comissão importante da Casa, como a de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), que já presidiu em 2015. Esta foi a forma que o ex-presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) encontrou para continuar exercendo sua influência no Parlamento após ajudar a eleger Rodrigo Pacheco como presidente. Hoje, Alcolumbre é cotadíssimo para voltar ao comando do Senado, substituindo Pacheco. A possibilidade de Lira assumir um ministério no governo, porém, daria a ele maior projeção para tentar voos mais altos no próximo pleito. No final de novembro, ele afirmou: “O que vai ser em 2026 vai depender muito do que acontecer em 2025 e também em 2026”. Na temporada política deste ano, Arthur Lira conseguiu emplacar um candidato favorito à sua sucessão – o deputado federal paraibano Hugo Motta, do Republicanos, atropelando pretensões de Elmar Nascimento, do União Brasil-BA e Antonio Brito, do PSD-BA. A opção por Hugo Motta deu-se depois que o deputado federal Marcos Pereira (SP), presidente nacional do Republicanos, abdicou da pré-candidatura à presidência da Câmara e lançou a alternativa Hugo Motta, que passou a conquistar apoios entre lulistas e bolsonaristas em Brasília.
“Veja” adianta que é igualmente incerto o futuro do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que pode virar ministro do governo do presidente Lula e, depois, disputar o governo de Minas Gerais. O atual presidente do Senado, conforme a revista, seria útil ao governo por ser de um partido importante e com capilaridade em diversos Estados – abrigando quadros de diferentes espectros, desde aliados como Eduardo Paes, prefeito do Rio, até gente mais perto de Bolsonaro, como o governador Ratinho Júnior, do Paraná. Também conta a favor de Pacheco a proximidade que ele tem com Davi Alcolumbre, que está prestes a voltar a comandar o Senado. Por fim, ele é uma peça importante no xadrez político em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país e reduto considerado decisivo para eleger qualquer presidente. “Pacheco não decidiu ainda. Seria um grande governador”, afirma Otto Alencar, líder do PSD no Senado e próximo a Lula. A respeito da possibilidade de sair da presidência do Senado direto para uma vaga na Esplanada dos Ministérios, aliados avaliam que há um risco razoável de ingressar no governo na hora errada. Se a popularidade da gestão do presidente Lula não melhorar até 2026, o prejuízo de imagem seria enorme.
Além de preocupar-se com o destino de Arthur Lira e de Rodrigo Pacheco, o Planalto preocupa-se com o futuro de Elmar Nascimento e Marcos Pereira, dentro da estratégia de fortalecimento da base governista no Congresso Nacional. Líderes importantes em seus partidos, ambos abriram mão de suas candidaturas a presidente da Câmara para apoiar Hugo Motta. A possível indicação para ministérios, portanto, poderia funcionar como uma espécie de prêmio de consolação que o governo estaria disposto a conceder. Elmar foi o relator da chamada PEC da Transição, importante para Lula antes mesmo de ele iniciar o mandato e, depois, foi cotado para assumir o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional no início do governo. A indicação não ocorreu por causa de divergências, hoje já superadas, com o PT da Bahia, especialmente o grupo ligado ao ministro Rui Costa. Recentemente, o deputado afirmou que lançar Ronaldo Caiado ao Planalto em 2026 seria uma “traição” do partido a Lula. Já Marcos Pereira, bispo da Universal e dirigente do Republicanos, ajudaria o petista a se aproximar dos evangélicos, segmento mais próximo do bolsonarismo. A marcha governista desses quatro líderes e seus partidos passa, especialmente, pela figura de Lula, mas não ocorrerá sem estar na mesa todas as cartas para o jogo eleitoral de 2026 – conclui a matéria de “Veja”.