Nonato Guedes
Diplomado, ontem, juntamente com o vice Leo Bezerra, para empalmar o seu quarto mandato à frente da prefeitura municipal de João Pessoa, Cícero Lucena (PP) tem pela frente o desafio de concretizar a sua melhor gestão na Capital paraibana, não só aproveitando a renovação do voto de confiança que lhe foi dado pela maioria do eleitorado mas a circunstância de estar sendo bafejado por uma parceria extremamente promissora com a administração estadual, chefiada pelo governador reeleito João Azevêdo (PSB). A diplomação de Cícero, ontem, foi revestida de simbolismos, a partir do ineditismo de sua longevidade no comando da prefeitura, com o exercício de quatro mandatos, bem adiante de concorrentes como Ricardo Coutinho e Luciano Cartaxo, que na história recente da Capital paraibana, lograram cumprir dois mandatos consecutivos, respectivamente. Do ponto de vista de igualar-se a Cícero no tempo de permanência talvez o mais próximo tenha sido Damásio Franca, que apesar de líder popular, foi beneficiário de escolhas indiretas pelo sistema de poder vigente.
Há, da parte de Cícero – que é filho natural de São José de Piranhas, no Sertão paraibano, mas que adquiriu uma identidade estreita com a população pessoense – a consciência da responsabilidade de se desdobrar para dar o melhor de si com vistas a fazer João Pessoa avançar positivamente nos seus índices de crescimento ou de desenvolvimento, rompendo grilhões de dependência a outros centros ainda existentes. Particularmente este ano a Capital tem vivido o seu melhor momento, tendo como porta de entrada e de impulsão o fluxo turístico que bate recordes em comparação com períodos anteriores, numa demonstração de que João Pessoa consolidou-se em definitivo como um destino disputado não só pelos que querem descobrir novidades mas também pelos que, uma vez apresentados às belezas e riquezas naturais, fazem a opção de vir residir aqui. Essa repercussão fantástica alcançada pela Capital paraibana é resultado de um investimento maciço em turismo, deflagrado pelas gestões de Cícero e pelas outras gestões que se sucederam, profissionalizando-se a divulgação e mesmo a comercialização do “produto” João Pessoa como um diferencial entre os atrativos oferecidos pela competição em diferentes lugares do mundo.
Essa revoada de turistas para a Capital paraibana tem um preço para os administradores locais, quer estejam na prefeitura, quer atuem no governo do Estado – é o preço de redefinir o planejamento urbanístico de João Pessoa, de ampliar o sistema viário ou de mobilidade, abrindo espaços, valorizando as potencialidades artísticas, culturais e sociais e preservando a orla marítima com suas características que tanto fascinam visitantes de todas as procedências. Isto requer a própria mudança de mentalidade ou de concepção sobre o que pode, realmente, impulsionar a demarragem do crescimento econômico e social de uma Capital que se prepara com grande expectativa para alcançar a marca do hum milhão de habitantes, tempo em que passará a fazer parte de um clube privilegiado de Capitais brasileiras que desbravaram fronteiras, apostaram na criatividade ou engenhosidade das soluções políticas e tomaram rumos que já não têm mais caminho de volta em nenhuma possibilidade. O desafio de “pensar grande” e de conseguir fazer é o que espera Cícero, juntamente com sua equipe, na administração que vai se instalar a partir do início de 2025.
O prefeito diplomado foi, por assim dizer, apresentado a essas demandas no curso da campanha eleitoral acirrada, da qual emergiu vitorioso em segundo turno, concorrendo contra o ex-ministro da Saúde do governo de Jair Bolsonaro, Marcelo Queiroga, do PL, um estreante no jogo político e, sobretudo, nas disputas travadas na Capital que já se chamou Felipéia de Nossa Senhora das Neves. Talvez tenha sido a mais radicalizada das campanhas que Cícero enfrentou desde a primeira, em 1996, passando pela segunda, em 2000, e pela atual, que se deu a céu aberto em 2020, dezesseis anos depois da sua passagem pelo Centro Administrativo Municipal. Havia um quê de revanche na mobilização de três candidatos que tentaram derrotar Cícero em 2024 – o próprio Marcelo Queiroga, o ex-prefeito e deputado estadual Luciano Cartaxo (PT) e o deputado federal Ruy Carneiro (Podemos), este enfrentando, ao cabo, sua terceira derrota na obsessão de ser prefeito. O eleitor deixou de lado a lógica e repetiu o cenário de 2020, apostando na “novidade” como contraponto ao discurso de continuidade preconizado por Cícero Lucena.
A campanha eleitoral deste ano em João Pessoa chamou a atenção da própria mídia nacional não necessariamente pela presença de um ex-ministro de Bolsonaro no páreo, mas pelo tom de gravidade que norteou o discurso dos adversários de Cícero Lucena, com acusações e ataques de caráter pessoal a ele e a seus familiares, em paralelo com provocação à Justiça Eleitoral para requisitar tropas federais com o fito de garantir a tranquilidade do pleito, o que foi denegado pela ausência de materialidade de provas nos argumentos agitados pelo jurídico das coligações que tentaram desgastar e prejudicar a recondução de Cícero Lucena a um novo mandato. O prefeito demonstrou resiliência e ganhou reciprocidade de parcelas do eleitorado para avançar rumo ao segundo turno, onde liquidou a fatura. O segredo de Cícero, além da sua identidade com a Capital, parece ter sido o foco do debate nas questões que interessam ao povo, nas soluções que poderiam ser viabilizadas para que o ciclo de desenvolvimento da Capital não fosse interrompido. O eleitorado queria discutir a Capital e seus problemas – os adversários queriam destruir Cícero. Venceu Lucena, com o passaporte para concretizar a sua melhor gestão na história de João Pessoa.