Nonato Guedes
Ainda que sob protestos, o Partido dos Trabalhadores deverá ser chamado a ceder espaços na Esplanada dos Ministérios em Brasília para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acomode partidos do chamado “Centrão” na segunda metade do seu governo, beneficiando partidos como PSD, PP, MDB e União Brasil. Uma reportagem do “Poder360” revela que o Planalto avalia que o PT é a única “gordura” que pode ser cortada no governo. O partido comanda 13 dos 38 ministérios de Lula, mas o presidente da República ainda não definiu quais os correligionários que poderão deixar a Esplanada. Em paralelo, o líder petista tem interesse em corrigir os rumos de algumas áreas, como a comunicação, e acomodar legendas que demonstram insatisfação mas que podem ajudar tanto no Congresso Nacional quanto na campanha eleitoral para 2026, quando a reeleição do mandatário voltará a estar em evidência, desafiando prognósticos de renovação nos quadros do petismo.
As especulações sobre o assunto ganharam corpo desde o envio do pacote de corte de gastos proposto pelo Ministério da Fazenda ao Congresso em 29 de novembro. Partidos da base aliada demonstraram insatisfação pela pressão de terem que votar mudanças significativas em propostas impopulares num prazo considerado bastante exíguo. Também cobraram a liberação de emendas ao Orçamento, o que levou o governo a negociar com as legendas para aprovar o pacote ainda em dezembro. Um dos projetos foi aprovado pela Câmara na terça-feira e, ontem, novas votações no Congresso atenderam à expectativa palaciana. O PSD e o União Brasil, siglas consideradas aliadas, levaram ao governo suas insatisfações com a representação que têm na Esplanada dos Ministérios. Cobraram mais espaço nos ministérios justamente em troca do apoio a medidas originárias do Executivo e consideradas imprescindíveis por este. O Planalto também quer tentar atrair ou pelo menos neutralizar partidos de centro em relação a uma possível candidatura de Lula à reeleição em 2026.
O União Brasil tem o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que já se declara pré-candidato à Presidência da República, enquanto o Republicanos tem o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, cotado para a disputa presidencial, embora ele negue tal possibilidade e assegure que disputará a reeleição no Estado. A expectativa é que Lula anuncie as trocas ministeriais somente depois do Carnaval, em março. Embora o novo comando do Congresso esteja praticamente acertado entre grande parte das legendas e o governo, o petista quer a consolidação do cenário, com Hugo Motta (Republicanos-PB) na presidência da Câmara e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) na presidência do Senado. Há, ainda, uma disputa pelo comando das principais comissões temáticas – por isso, Lula deve esperar a movimentação decantar para definir concretamente as mudanças. O petista ainda quer realizar uma reunião ministerial para unificar linguagem e corrigir a rota de algumas Pastas que estão fora do eixo. O governo está de olho na sua avaliação positiva, que despencou ao completar dois anos conforme sinalizado em algumas pesquisas.
No rol de especulações em Brasília, a saída do ministro Paulo Pimenta (PT) da Secom – Secretaria de Comunicação Social da Presidência, é dada como certa até por petistas, com alguns afirmando que ele poderia ser o único a cair antes mesmo de fevereiro. A mudança, neste caso, não envolve uma acomodação partidária mas a busca por uma solução para um dos problemas que o governo enfrenta desde o início da terceira gestão de Lula. Em seis de dezembro, o próprio presidente fez duras críticas à comunicação e afirmou que a área é uma de suas preocupações para resolver a partir de 2025.Disse que há equívoco seu por não organizar entrevistas com jornalistas, cobrou a realização de uma licitação para a mídia digital e prometeu “correções”. Os problemas de comunicação no governo Lula ficaram expostos mais recentemente, quando da internação do presidente no hospital Sírio-Libanês em São Paulo para intervenções cirúrgicas. O papel da Secom foi nulo do ponto de vista de fornecer informações precisas a respeito e quem acabou ganhando protagonismo foi a primeira-dama Janja da Silva, que acompanhava o presidente no leito do hospital, bem como os médicos que atenderam ao chefe do Executivo. “A gente não conseguiu sequer fazer com que a gente tivesse um estudo mais profundo sobre a questão digital e sequer fez uma licitação para que a gente pudesse ter uma imprensa digitalizada altamente competitiva”, queixou-se Lula, no que foi interpretado como uma demissão pública de Pimenta.
As “indiretas” a Pimenta constituíram o principal assunto dominante entre os poucos caciques do Partido dos Trabalhadores que participaram do jantar de confraternização realizado pela legenda em Brasília, poucas horas depois da fala do presidente. Afirma-se que o presidente quer o marqueteiro de sua campanha vitoriosa de 2022, Sidônio Palmeira, no comando da área, mas ele resiste a aceitar um cargo no governo, já que mora em Salvador (BA) e preferiria continuar colaborando pontualmente, mas passou a ser mais requisitado por Lula nos últimos meses. Segundo se apurou, Lula deve promover uma mudança exclusivamente política no Ministério das Minas e Energia, comandado por Alexandre Silveira (PSD). O cargo de ministro deve ir para o MDB, com a indicação do senador Eduardo Braga (AM), ou para o Republicanos, com a indicação do deputado e presidente do partido, Marcos Pereira (SP), sendo cogitado também o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). No início de setembro, Pereira abriu mão de disputar a presidência da Câmara e lançou o líder do partido na Casa, Hugo Motta, da Paraíba, que permanece como favorito para se eleger em fevereiro de 2025.