Nonato Guedes
O deputado federal paraibano Hugo Motta, do Republicanos, confessou a aliados que não descansará no período de recesso parlamentar quanto à maratona para se eleger presidente da Câmara no pleito a ser realizado em fevereiro para suceder o atual dirigente, Arthur Lira (PP-AL), que já fez sua despedida antecipada. Mesmo sendo absolutamente favorito no páreo, com perspectiva de obter larga vantagem e enfrentar apenas um oponente simbolicamente decorativo, Hugo Motta mantém-se proativo, reforçando o contato com os eleitores de diferentes Estados e ao mesmo tempo ampliando a interlocução com expoentes de outros Poderes para facilitar a sua gestão. Foi muito comentado, por exemplo, o encontro que ele manteve com o ministro Gilmar Mendes, decano do Supremo Tribunal Federal, que por sua vez disse ter tido boa impressão do parlamentar paraibano, considerando-o experiente e preparado para comandar a Câmara, apesar da sua juventude. Gilmar e Motta debateram questões ligadas à estabilidade institucional brasileira.
O ministro do Supremo foi bastante receptivo a muitas demandas, inclusive, de caráter pessoal, encaminhadas pelo presidente Arthur Lira junto à Corte e deixou claro que pretende manter o mesmo relacionamento de diálogo com o deputado Hugo Motta depois que este for ungido e sacramentado para o posto. Arthur Lira conduziu, nas últimas semanas, votações de inegável interesse para o Palácio do Planalto, versando sobre matérias de caráter econômico que interessavam, sobremaneira, ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a exemplo da reforma tributária e de medidas fiscais urgenciadas pelo Executivo, até com cortes de despesas, dentro do objetivo de manter a situação de estabilidade e evitar ameaças de descontrole. As propostas agitadas demandaram intensas negociações, com avanços e recuos de parte à parte, mas focadas na filosofia de viabilizar a governabilidade, desemperrando projetos que foram alardeados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O papel de colaboração envolveu, igualmente, o Senado, presidido por Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que deverá ser substituído pelo senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), conforme o consenso pré-estabelecido em Brasília.
A grande mídia já começa a se debruçar sobre o legado de Arthur Lira em quatro anos de atuação no comando da Câmara, com críticas pontuais. A “Revista Fórum” destacou que Lira deixa a presidência com herança de autoritarismo, chantagem e retrocesso, referência à manutenção do orçamento secreto, manobras, silenciamento e perseguições políticas, além de denúncias pessoais. “Sob seu comando, a Câmara viveu anos de forte centralização de poder e práticas autoritárias que minaram a pluralidade política e reforçaram as críticas ao modelo do presidencialismo de coalizão que vigora no Brasil”, pontua “Fórum”, recapitulando que Lira foi eleito pela primeira vez em fevereiro de 2021 com 302 votos graças ao apoio do então presidente Jair Bolsonaro, que ofereceu cargos estratégicos no governo e liberação de verbas parlamentares para assegurar a vitória do aliado. Ao assumir, Lira concentrou poderes e apoiou Bolsonaro incondicionalmente durante o mandato. Lira valeu-se de manobras regimentais para pôr em tramitação projetos fundamentalistas e atrasou votações para pressionar o governo. Mas também foi decisivo para acelerar projetos do próprio governo do presidente Lula, a partir da chamada PEC da Transição que foi votada antes mesmo do petista ser empossado no cargo.
O deputado paraibano Hugo Motta é uma espécie de afilhado político do presidente Arthur Lira, que encampou sua postulação à cadeira a partir da desistência do deputado Marcos Pereira, do Republicanos-SP. Por causa da aproximação com Hugo Motta, Arthur Lira expôs ao sereno a pré-candidatura do deputado Elmar Nascimento, do União Brasil-BA, que chegou a recepcionar deputados-eleitores como provável futuro presidente da Câmara. A verdade é que Nascimento não conseguiu avançar nas articulações de bastidores para fortalecer uma candidatura à presidência da Câmara e sofreu a concorrência, também, do deputado federal Antônio Brito, do PSD da Bahia, que dividiu votos principalmente no chamado “Centrão”, agrupamento fisiológico e conservador que detém grande influência nas votações mais polêmicas que constam da agenda política nacional, especialmente no que se refere a matérias ligadas a costumes. Elmar e Brito acabaram sendo convencidos a retirar suas postulações e, nesse vácuo, Hugo Motta explorou oportunidades para crescer de cotação, passando a ser apoiado simultaneamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
O parlamentar do Republicanos está praticamente eleito por expressiva maioria de votos na Câmara dos Deputados, mas ele não baixa a guarda nem espalha sinais de triunfalismo, aplicando-se de forma profissional aos contatos para pavimentar com solidez a sua pretensão e alcançar o desideratum que persegue. Na Paraíba, Hugo Motta é conhecido como político descendente de tradicional família do Sertão e ganhou destaque pela sua atuação como presidente do Republicanos, partido que atuou como espécie de fiel da balança nas eleições de 2022, com um pé no governo (apoiando João Azevêdo) e na oposição (apoiando Efraim Filho ao Senado). O próprio Hugo Motta vinha sendo cogitado como alternativa para concorrer ao governo do Estado ou ao Senado Federal em 2026, mas a ascensão ao comando da Câmara deverá alterar drasticamente seu roteiro, já que se abre a perspectiva de, lá na frente, postular a reeleição à presidência da Casa, o que o levaria a se candidatar novamente à Câmara em 2026.