Nonato Guedes
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se na tarde de ontem, em Brasília, com o deputado federal paraibano Hugo Motta, do Republicanos, sucessor quase certo de Arthur Lira na presidência da Câmara e tido como político mais maleável para a articulação do governo na Casa Legislativa. O encontro ocorreu em meio a um novo embate travado entre o presidente Arthur Lira (PP-AL) e o ministro do Supremo Tribunal Federal, Flávio Dino, em torno da liberação do pagamento de emendas parlamentares. Hugo Motta já assegurou o apoio de mais de 480 dos 513 deputados para suceder o alagoano no comando da Câmara a partir de fevereiro.
Embora seja apoiado por Arthur Lira, Hugo Motta é visto como o político que tem mais jogo de cintura, pelo seu espírito conciliador. O encontro amistoso na Granja do Torto, onde o presidente Lula passará o fim de ano, se deu como uma forma de aproximação do governo com o futuro presidente da Câmara, principal ponto nevrálgico na relação entre os Poderes. No final da noite de ontem, o deputado paraibano publicou um Stories em seu Instagram, dentro de um avião, retornando ao Estado natal após o encontro com Lula.
“Sensação de dever cumprido com o trabalho em favor dos paraibanos e paraibanas”, escreveu o deputado do Republicanos. Participaram do encontro, conforme a “Revista Fórum”, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, um dos principais alvos dos ataques de Lira ao governo. “Mesmo como candidato de Lira e com um passado golpista ao lado de Eduardo Cunha, seu tutor na Câmara, Motta conseguiu cooptar um amplo leque de apoios, que vai do PT ao PL de Jair Bolsonaro para disputar a presidência da Câmara na volta do recesso, em fevereiro”, informa a “Revista Fórum”.
O governo acredita que com o paraibano no comando haverá um distensionamento na relação com a Câmara nos últimos dois anos, essenciais para a tentativa de reeleição de Lula em 2026. Entretanto, Lira pretende continuar dando as cartas em razão do acordo de bastidores com Motta, que teria se comprometido, entre outros pontos, a colocar em pauta o projeto de anistia no acordo feito com a bancada bolsonarista. Na negociação com o PT, Motta prometeu indicar um membro da bancada petista para o Tribunal de Contas da União. Todavia, o paraibano não conta com total confiança na hoste governista e por isso Lula tenta a aproximação. Técnicos e articuladores governamentais temem que Motta esteja prometendo além do que poderá cumprir, principalmente no que se refere ao compromisso com a bancada petista para indicar um nome do partido ao Tribunal de Contas da União. A “Revista Fórum” insinua que, nos bastidores de Brasília, ligados ao governo, Hugo Motta ganhou o apelido de “Hugo Marmotta”, uma referência à percepção de que suas promessas podem acabar soando como ilusões.