Nonato Guedes
O presidente da Assembleia Legislativa do Estado, Adriano Galdino, do Republicanos, iniciou por sua cidade natal, Pocinhos, durante a posse da sua mulher, Eliane, reeleita à prefeitura, a pré-campanha ao governo na disputa que vai se ferir ainda em 2026. Ao se lançar com bastante antecedência ao Executivo, ele repete tática usada pelo então deputado federal Efraim Filho (União Brasil) como pré-candidato ao Senado pela oposição em 2022, em que saiu vitorioso com o apoio de líderes do Republicanos. Galdino, porém, desde o segundo semestre de 2024, aventou a possibilidade de concorrer ao governo, fortalecido com sua recondução ao comando do Poder Legislativo Estadual e com a perspectiva de eleição do deputado federal Hugo Motta, do seu partido, à presidência da Câmara dos Deputados. Ele se apresenta como “um filho do povo” interessado em representar esse povo no Palácio da Redenção e é otimista quanto ao apoio e receptividade que possa ter uma candidatura oficial.
Adriano Galdino é considerado um dos expoentes da nova geração de quadros políticos com influência nos destinos da Paraíba. À frente da presidência da Assembleia, tem se portado com dinamismo e inovação, levando a Casa de Epitácio Pessoa a obter reconhecimento a nível nacional pela sua produção, inclusive, em períodos de emergência, quando se deu na pandemia de covid-19, em que o saldo de proposições e de leis foi recorde, apesar da vigência plena de medidas de isolamento ou de restrição social. Mediante a realização de sessões online, o Legislativo paraibano deu partida e continuidade a votações de matérias relevantes, em sua maioria originárias do Executivo, contribuindo para a governabilidade do mandato de João Azevêdo (PSB), de quem o presidente da Assembleia é aliado. A atuação colaborativa com o governo do Estado transcorreu sem prejuízo do respeito à autonomia e independência do Legislativo, o que ficou expresso na liberdade de atuação da bancada de oposição e, até mesmo, na participação de deputados oposicionistas no contexto da Mesa Diretora e em comissões importantes. Governador e deputado atestaram, de público, esse comportamento proativo de Adriano, bem como a sua capacidade de diálogo com os contrários, dentro da técnica de exercitar a democracia.
O dirigente, que enfrentou turbulências e maquinações para atrapalhar sua recondução ao posto, cuja autoria não foi totalmente esclarecida para a opinião pública, superou com galhardia e habilidade esses atropelos e alcançou marca histórica no comando da Assembleia Legislativa da Paraíba, praticamente igualando o mandato de um governador reeleito. Adriano já deixou claro que, apesar de se sentir à vontade no Legislativo, cogita ou ambiciona novos desafios, para os quais se julga preparado dado o seu conhecimento da realidade estadual, tendo se enfronhado no exercício dos mandatos parlamentares na discussão dos temas mais pertinentes da conjuntura paraibana, inclusive, com intervenções corajosas perante ministros e outras autoridades da República. Pelo que deu a entender em fala pública na entrada do Ano Novo, pretende começar a percorrer todas as regiões do Estado e fazer o debate com representantes dos diferentes segmentos da sociedade, misturando-se com o povo para sentir suas pulsações e respaldar sua plataforma de candidato. Ele se lança num momento em que a oposição ainda vacila em definir um nome para representar suas cores na sucessão de João Azevêdo, sendo que o nome aparentemente mais forte, a dados de hoje, naquele bloco, é o do senador Efraim Filho.
O governador João Azevêdo e outros líderes de expressão reconhecem o direito do presidente da Assembleia de pleitear a indicação como candidato ao Executivo, o mesmo fazendo o líder do seu partido, deputado federal Hugo Motta, e adversários de outros partidos. Os depoimentos convergem para a capacidade de trabalho de Adriano Galdino e para outra peculiaridade sua – a característica de cumprir acordos, compromissos ou palavras empenhadas, não se ombreando a políticos que titubeiam ou que têm comportamento dúbio ao longo de sua trajetória. O desafio que Adriano tem pela frente, no entanto, é imenso, já que o esquema do governador João Azevêdo tem outros pretendentes à vaga e o processo de escolha, em si, demandará consultas e negociações de bastidores. O PSB de João tem a pré-candidatura do secretário de Infraestrutura e Recursos Hídricos Deusdete Queiroga, que seria o nome “in pectoris” do governador. Pelo PP são agitados os nomes do vice-governador Lucas Ribeiro, que poderá assumir a titularidade com o afastamento de João para concorrer a um mandato de senador, e do prefeito reeleito de João Pessoa, Cícero Lucena, que está prometendo, desde agora, o melhor dos seus quatro mandatos como gestor da Capital, em meio ao bom momento que, segundo se diz, a Paraíba vive em relação ao turismo e ao desenvolvimento econômico. Pelo Republicanos, além de Adriano Galdino, menciona-se o nome de Hugo Motta, que sairá da eleição à presidência da Câmara com força total, passando a compor efetivamente a hierarquia de poder da República.
Do ponto de vista estratégico, a postura de Adriano em largar na frente na corrida pelo governo do Estado em 2026 é avaliada como correta, face aos obstáculos que ele precisa ultrapassar e, também, à necessidade que terá de massificar seu projeto e de atrair adesões, inclusive, no bloco oposicionista, tirando proveito de intercorrências ou divisões que ali ocorram em meio a interesses contrariados ou a pretensões não atendidas. O deputado desponta como mais articulado do que Efraim, pela liberdade que dispõe de se lançar ao governo, ao contrário do senador, que pisa em ovos para não colidir com eventuais pretensões idênticas do ex-deputado Pedro Cunha Lima (PSDB) e do deputado federal Romero Rodrigues (Podemos). Mas o tempo é que dirá da viabilidade da pré-candidatura de Adriano ao Executivo, porque até outubro de 2026 muita coisa pode acontecer no cenário político da Paraíba. Parodiando jargão conhecido, pode acontecer tudo, inclusive nada, nessa conjuntura.