Nonato Guedes
A consolidação da candidatura do governador João Azevêdo (PSB) a uma vaga ao Senado em 2026 constitui-se em processo de construção que deverá envolver, primordialmente, figuras do centro do poder em Brasília, a partir do Palácio do Planalto. Aliás, o chefe do Executivo já foi eloquente nesse sentido quando afirmou, na despedida de 2024, que está sendo cobrado por expoentes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a postular a cadeira para reforçar a estratégia de apoio ao Executivo na hipótese de reeleição do mandatário nas urnas no próximo ano. Aliado incondicional de Lula, mesmo quando este apoiou o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) ao governo no primeiro turno das eleições na Paraíba, Azevêdo é um defensor da atual administração atual e espera, já em 2025, ser bafejado por liberação de recursos e por destinação de obras estruturantes para o Estado. Sua candidatura a senador interessa, também, a deputados federais alinhados com sua liderança que planejam disputar recondução aos mandatos e que nele identificam um cabo eleitoral valioso ou qualificado.
O presidente Lula confidenciou a interlocutores que vai precisar de aliados fiéis na próxima legislatura, especialmente no Senado, diante da ofensiva que a direita bolsonarista vem deflagrando com pré-candidaturas de líderes de expressão para obter maioria naquela Casa. Neste terceiro mandato, Lula teve que fazer concessões, sobretudo, na Câmara, para garantir apoio e votos de parlamentares, inclusive, do “Centrão” com vistas à aprovação de matérias de interesse do Palácio do Planalto. Foi um recurso para compensar a inferioridade numérica da bancada do PT e das bancadas de outros partidos que estão na base oficial. O governo, no terceiro mandato, cedeu ministérios a legendas como o União Brasil e o Partido Progressista, cujos integrantes não apresentam um “Índice de Governismo” confiável, conforme levantamento feito pelo Radar do “Congresso em Foco”. O próprio Lula, em discursos e entrevistas, foi sincero ao se referir a dificuldades opostas no caminho da governabilidade, agravadas pelo fogo cruzado das bancadas de direita que, orientadas por governadores ou agindo por conta própria, questionam políticas públicas ou projetos de repercussão social agitados pelo Palácio do Planalto. Ele usou a metáfora para defender a postura de diálogo ensaiada na negociação da aprovação de matérias.
No que se refere às eleições para o Senado na Paraíba em 2026 não é ocioso imaginar que o presidente Lula aposte fichas na eleição de dois aliados seus de primeira hora – o governador João Azevêdo pelo PSB e o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que concorrerá à reeleição, para tanto fechando os olhos a peculiaridades locais como o fato de Veneziano estar rompido com João e ter se alinhado ao grupo Cunha Lima em Campina Grande para assegurar espaços legítimos de sobrevivência numa disputa que pode vir a ser renhida. Uma vez candidato ao Senado, Azevêdo terá o desafio de acomodar a senadora Daniella Ribeiro (PP), que, conquanto não seja discípula fervorosa do governo Lula, oferece apoio a iniciativas governamentais relevantes, e igualmente pleiteará recondução à chamada Casa Alta. O PP de Daniella rege-se pelo pragmatismo, tanto assim que ocupa ministérios no governo do petista com as bênçãos de Ciro Nogueira e de outros líderes de destaque. É um partido vocacionado para estar no poder, desde que o poder lhe prestigie – e tem sido assim desde gestões anteriores, inclusive, as que se sucederam na vigência do regime militar. Por assim dizer, Daniella é a grande incógnita para a equação eleitoral de 2026 na Paraíba.
A candidatura de João Azevêdo ao Senado, por outro lado, não chega necessariamente a ter a unanimidade de defesa dentro do seu agrupamento, ainda que o apoio seja inevitável, uma vez concretizando-se na prática. Há aliados do governador (deputados federais, deputados estaduais e secretários de Estado) que recomendam cautela ou admitem abertamente como mais viável a permanência dele no exercício do mandato até o último dia, como alegada estratégia para assegurar a hegemonia do esquema no Executivo estadual, prolongando mesmo, se for o caso, o domínio do PSB, que tem se revezado desde a investidura de Ricardo Coutinho (PT) em 2010. Os partidários do “Fico” de João Azevêdo temem que a situação degringole com a sua saída e consequente ascensão à titularidade do vice-governador Lucas Ribeiro, filho de Daniella (PSD), que teria cacife para se firmar como candidato natural à reeleição. Com isso, o esquema dos Ribeiro estaria livre para se compor de acordo com seus interesses ou necessidades, fazendo acenos para a oposição, que, até aqui, tem o senador Efraim Filho, do União Brasil, como o principal interessado em representar as suas cores do bloco na disputa ao governo do Estado. Em tese, a acomodação do “clã” Ribeiro é o grande problema a ser equacionado pelo governador João Azevêdo, que tem plena consciência disso.
No histórico da realidade política recente do Estado da Paraíba, há teorias e hipóteses as mais diversas sobre candidatura de governador ao Senado. Esse cenário especulativo ganhou força em 2018 quando o então governador Ricardo Coutinho abdicou do direito de disputar a vaga e justificou que permaneceria no Palácio da Redenção para eleger João Azevêdo seu sucessor e derrotar Cássio Cunha Lima, pretendente à reeleição senatorial. Os dois feitos ocorreram – João foi eleito em primeiro turno e Cássio foi fragorosamente derrotado. Mais tarde, o próprio Ricardo precisou ter um mandato para imunizar-se de denúncias contidas em escândalos da Operação Calvário – sua sorte, nesse caso, foi que a apuração enveredou pela lentidão, poupando-o de maiores embaraços policiais e judiciais. Mas em 2022, quando finalmente arriscou-se à vaga de senador, Ricardo foi defenestrado nas urnas. É nesse exemplo que o governador João Azevêdo deve se mirar para construir seu próprio futuro, guardadas as diferenças e proporções.