Nonato Guedes
Em seu blog na revista “Veja” o economista paraibano Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda no governo de José Sarney na década de 80, critica a comemoração de setores do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela expansão de 3% do Produto Interno Bruto (PIB), advertindo que não pode ser considerada “robusta” uma expansão com esse percentual. Ele explica que a estimativa do potencial de crescimento anual da economia brasileira (2%) indica quanto é possível crescer com inflação sob controle e com solidez do balanço de pagamentos.
– Nos últimos dois anos, todavia, impulsionada por forte elevação dos gastos públicos, a economia vem se expandindo a um ritmo de 3% ao ano, acima, pois, desse potencial. Daí o aumento da taxa de inflação e a redução das exportações líquidas (exportações menos importações). Parte da demanda interna vazou para o exterior – analisa Maílson. E emendou: “Muitos comemoraram tal resultado que consideram “robusto”. É o mesmo que celebrar a mediocridade”.
O ex-ministro pondera: “Na verdade, se o Brasil desejar manter o objetivo de tornar-se um país rico, o PIB precisará crescer a um ritmo muito maior. Nos últimos dez anos, entretanto, o crescimento acumulado foi de 8,3% (média anual de 0,5%) em comparação com 28,3% dos Estados Unidos. Mesmo que excluídos os anos de 2015 e 2016, quando a economia caiu 6,7% por causa da desastrosa política econômica do governo da presidente Dilma Rousseff, nosso ritmo continua mais lento do que o dos americanos”.
Para Maílson, que é sócio da consultoria “Tendências”, a economia brasileira foi apanhada na “armadilha da renda média”, expressão criada em 2007 pelo Banco Mundial. Ela define a situação de um país que elevou sua renda per capita a 12 000 dólares de 2011 (equivalentes a 16 000 dólares atualmente) mas não avançou. Todos os que venceram essa barreira estão situados na Ásia e no Leste Europeu (os que pertenciam à extinta União Soviética). O êxito inicial decorreu de ganhos de produtividade advindos das migrações campo-cidade, da qualidade da educação, da infraestrutura e da tecnologia dos bens de capital importados. Tudo isso resultou em aumento da produtividade, mas ela perde impulso com o tempo porque a relevância migra para a inovação.
De acordo com o diagnóstico do ex-ministro da Fazenda, o sucesso dos países asiáticos se explica em grande parte pela qualidade da educação, pelos investimentos em infraestrutura e por um ambiente de negócios propício à atração de investimentos estrangeiros, ao avanço tecnológico e às oportunidades que proporcionam a expansão da atividade econômica. Exemplifica que a China é o grande destaque da região. Sua alta taxa de crescimento, ainda que menor em anos recentes, a tornou a segunda maior potência do planeta.
Por outro lado, Maílson afirma que o governo da Índia entende que pode sustentar um crescimento elevado nos próximos anos e transformar o país em uma economia desenvolvida em 2047, o que decorreria de melhora nos campos regulatório, jurídico e de infraestrutura. A Indonésia diz que se livrará da armadilha da renda média mediante boa gestão fiscal, investimentos em infraestrutura e maior qualidade de recursos humanos. Ela alcançaria o status de país de alta renda em 2045. A Tailândia é muito mais ambiciosa. Prevê que se tornará uma nação rica em 2037 apoiada nos mesmos fatores que explicariam o desempenho dessas duas outras economias.
E conclui o ex-ministro da Fazenda: “O Brasil pode chegar lá, mas dependerá de reformas, principalmente para resolver a grave situação fiscal. Não será pelo aumento do gasto público, como pensa o atual governo”.
Enquanto isso, no contraponto das análises de Maílson da Nóbrega, uma matéria da “Revista Forum” revela que o Norte e Nordeste estão puxando o PIB e compensando crescimento mais baixo no Sul e no Centro-Oeste, conforme projeções do Banco do Brasil. Essas projeções mostram que o agro foi quem puxou a atividade econômica para baixo, e que a Paraíba, governada por João Azevêdo (PSB) deve registrar maior alta, com PIB de 6,6%. “O crescimento econômico no Nordeste vai assegurar as projeções nacionais para o Produto Interno Bruto, principal termômetro da atividade econômica, que deve fechar o ano de 2024 em 3,5% conforme projeções divulgadas na sexta-feira na Resenha Regional, um relatório mensal com indicadores das regiões e Estados brasileiros feito pelo setor de investimentos do Banco do Brasil.
A análise mostra que o Norte deve fechar o ano com PIB de 4,7% e o Nordeste de 3,8%, compensando índices mais baixos de crescimento econômico no Sul, de 2,8% e Centro-Oeste, 2,7%. No Sudeste, os analistas do Banco do Brasil preveem um crescimento de 3,7%, índice mais próximo ao nacional. Entre os Estados, o maior PIB deve ser registrado na Paraíba (6,6%), seguido do Rio Grande do Norte com 6,1%, Tocantins com 6%, Amapá com 5,8%, Espírito Santo com 5,3%, Amazonas com 5,2% e Distrito Federal com 5,1%. Nas projeções do BB ficou claro que o segmento do agro foi quem puxou a economia para baixo no país.