Nonato Guedes
Presidente em exercício do Senado, o senador paraibano Veneziano Vital do Rêgo (MDB) participa nesta quarta-feira, em Brasília, da solenidade convocada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para marcar os dois anos dos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023 contra o regime democrático, em Brasília. Na época dos ataques, comandados por extremistas políticos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Veneziano também estava no exercício da presidência do Senado e sua atuação foi importante para, junto com os representantes dos demais poderes, restabelecer a ordem, naquele momento crucial da vida do país. Ele atuou de forma articulada com o presidente Lula, com o ministro Alexandre de Moraes e com ministros do governo e acionou outras autoridades num esforço que visava, sobretudo, a preservação do regime democrático. Entre os eventos agendados para hoje na Capital Federal está o “Abraço da Democracia” na Praça dos Três Poderes.
– Precisamos ficar sempre atentos, lembrando dos episódios do 8 de janeiro, para que eles nunca mais voltem a acontecer – alertou Veneziano, ao rememorar que o “golpe” não aconteceu porque “todos, sociedade civil, a esmagadora maioria da população brasileira e os representantes dos poderes deram-se as mãos para dizer: “Não, absolutamente nós não vamos concordar, compactuar, em absoluto, que essas gravíssimas ações, esses fatos que atentaram contra as nossas instituições, possam prosperar”. No entendimento do parlamentar paraibano, que substitui o presidente Rodrigo Pacheco (PSD-MG) em viagem ao exterior, o ensaio golpista amadureceu na maior parte da sociedade brasileira a consciência de se manter vigilante para coibir os acenos de retrocessos que continuam sendo feitos, principalmente por expoentes da direita e da extrema-direita, que ganharam desenvoltura com a eleição de candidatos ao Senado, à Câmara dos Deputados e a governos estaduais.
Uma pesquisa do instituto Quaest divulgada na segunda-feira, dia 6, mostrou que o ex-presidente Jair Bolsonaro foi o grande derrotado, no tribunal da opinião pública, sobre a tentativa de golpe orquestrada para impedir, a todo custo, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Quase nove em cada dez brasileiros em todas as regiões, faixas de renda, escolaridade e idade, mantém o repúdio às invasões das sedes do governo, do Congresso e do Judiciário no 8 de janeiro de 2023, fato compreendido como epílogo de uma tentativa frustrada de golpes de Estado para manter Bolsonaro no poder após a derrota nas urnas. Antes e depois da derrota nas eleições para a renovação, Bolsonaro e “entourage” fizeram investidas para não reconhecer a legitimidade da vitória de Lula. Isto ficou evidente na cruzada desencadeada para tentar desmoralizar o sistema das urnas eletrônicas do Brasil, apresentando-o como inconfiável em termos de transparência absoluta na coleta e divulgação de resultados. Até embaixadores estrangeiros baseados em Brasília foram chamados para uma reunião pública por Bolsonaro, que insistiu em desacreditar a Justiça Eleitoral, obrigando esta a reagir com demonstrações de segurança absoluta do processo vigente no país.
Na sequência, com a derrota cristalizada, e o desespero latente de Jair Bolsonaro e dos seus discípulos, houve acampamento de bolsonaristas radicais em portas de quartéis espalhados por todo o país, clamando por intervenção militar, um coro que foi reforçado pelos saudosistas da ditadura de 64 e dos seus subprodutos como o famigerado Ato Institucional Número Cinco, de 1968. Até o último instante, no exercício do cargo, o então presidente esperou, em vão, que os tanques fossem para as ruas, na repetição da quartelada de 64 que instaurou a “longa noite das trevas” e que ainda conseguiu durar 15 anos, com cassações de mandatos, censura, tortura, prisões ilegais e toda sorte de arbitrariedades inerentes a um regime de exceção. Uma parte dessa história foi contada, agora, no filme “Ainda Estou Aqui”, baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva e que já consagrou a atriz Fernanda Torres com o Globo de Ouro. A obra narra o desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva, que combatia a ditadura militar e lutava em favor dos perseguidos políticos.
Dois anos depois, como nota o articulista José Casado na revista “Veja”, a reprovação contra o 8 de janeiro continua alta em parcelas da sociedade brasileira (86%). Segue expressiva mesmo entre os eleitores que escolheram votar em Lula (88%) e em Bolsonaro (85%) no segundo turno da eleição presidencial de 2022. Essa quase unanimidade confirmaria, segundo o articulista, a aversão do eleitorado à radicalização política, sobretudo com requintes de violência institucional. É uma tendência captada em outras pesquisas desde 2022 e confirmada na eleição municipal de outubro do ano passado, quando os eleitores rejeitaram a “nacionalização” da campanha eleitoral para repetição do embate Lula versus Bolsonaro. A predominância dos temas locais e, também, da realidade política local, foi determinante, inclusive, em muitos centros urbanos expressivos e formadores de opinião do país. É possível que ainda neste ano Bolsonaro seja julgado em um dos principais casos de que é acusado por conspiração e tentativa de golpe de Estado. Ele se diz inocente, mas até agora, seu crédito no eleitorado está minguante, como demonstra a pesquisa Quaest. Se havia uma tendência a relativizar a participação de Bolsonaro no episódio de 8 de janeiro, ela perdeu força com a divulgação de novas evidências sobre a tentativa de golpe.