Nonato Guedes
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deflagra, em 2025, mudanças na comunicação como estratégia para se aproximar melhor de segmentos da sociedade, a partir da avaliação de que está havendo ruídos na transmissão de informações sobre o que está sendo feito em benefício da população. O publicitário Sidônio Palmeira, convidado para assumir a Comunicação no lugar de Paulo Pimenta e que recusa o rótulo de marqueteiro, já avisou que seu trabalho consistirá em fazer chegar “na ponta” o resultado das ações governamentais, observando que não há um conhecimento mais detalhado do “muito que está sendo feito”. Além da mudança na comunicação, o Planalto tem outro desafio nesta segunda fase do mandato: repartir o poder para evitar o fortalecimento da direita, o que deverá vir acompanhado de medidas críveis para superar a crise de confiança na economia, como revela matéria do “Congresso em Foco” assinada por Lydia Medeiros.
A reportagem lembra que Lula montou uma frente partidária em 2022 para vencer as eleições e que a tática deu certo, com a agregação de partidos de centro e a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). No entanto, já na montagem do governo, essa coalizão enfrentou problemas, com o PT disputando e, conseguindo, um espaço bem maior na Esplanada dos Ministérios do que o conjunto dos aliados. Ainda assim, o presidente da República conseguiu aprovar boa parte de sua agenda legislativa. Mas as dificuldades para reconstruir a base de centro tomaram forma no evento que relembrou os ataques aos Poderes de 8 de janeiro de 2023. Os comandantes do Legislativo, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, faltaram à festa, assim como os candidatos únicos a sucedê-los (deputado Hugo Motta e senador Davi Alcolumbre). Preferiram ficar fora do ato em frente ao Planalto, também, ministros do STF, evitando se associar à politização do evento. Lula foi criticado pela oposição por ter mantido acesa a chama da polarização política-ideológica ao invés de fazer acenos de conciliação, como se esperava.
O presidente não passou recibo da ausência de lideranças políticas, preferindo exaltar a própria biografia como um dos artífices da volta da democracia e como sobrevivente – à seca, ao câncer, a uma pane de avião e à recente batida na cabeça depois de um tombo. Deixou de lado, como nota a reportagem, a diversidade política que derrotou a ditadura e deu-lhe três mandatos. “Para reaglutinar essas forças – escreve Lydia Medeiros – Lula será cobrado a tomar medidas mais duras do que o pacote fiscal aprovado pelo Congresso em dezembro. Muito pouca gente em Brasília aposta, porém, que o governo vá patrocinar novas reformas, como a da Previdência. Apesar dos bons números no emprego e no crescimento do PIB, agentes financeiros e investidores veem hoje o Brasil como um país de incertezas. O dólar acima da barreira de R$ 6 é um termômetro dessa desconfiança, que se agrava diante do caos anunciado por Donald Trump. A união na defesa da democracia levou Lula de volta ao Planalto. Com Bolsonaro inelegível, as pesquisas mostram, claramente, que isso já não é suficiente para sustentar um novo projeto eleitoral, para reeleição ou sucessão. Os eleitores querem mais, o que significa menos inflação e juros, mais segurança pública, saúde e educação. A capacidade de resposta do governo nos próximos 22 meses vai determinar a margem de êxito de Lula em 2026”.
Sobre a mudança na comunicação, o ministro Paulo Pimenta justificou a decisão do petista de trocar a chefia da pasta para o governo ter “um perfil diferente” para “coordenar a política de comunicação na fase da colheita”. Explicou que Lula teve uma leitura muito precisa. “Nós tivemos uma primeira fase do governo, uma fase de reconstrução, de reposicionamento dos programas, das ações do governo. A partir de 2025, nós vamos entrar em uma nova fase do governo, o que a gente chama de muita colheita de resultados. E o presidente quer ter à frente da Secom alguém com um perfil diferente do que tenho”, emendou Pimenta. Sidônio Palmeira fez o marketing da campanha de Lula em 2022, que assinalou a volta do petista ao Palácio do Planalto e, de acordo com as versões, tem a confiança direta do presidente da República. O publicitário prometeu fazer o máximo para manter a transparência. Sidônio Palmeira acrescentou: “Esse governo fez muito. Estamos começando um segundo tempo e as coisas precisam chegar na ponta. Tem alguns problemas na comunicação, mas não é somente na Secom, mas no governo como um todo. Vou fazer o máximo possível para informar e manter a transparência que esse governo tem. É uma experiência nova e interessante, um grande desafio importante e eu mesmo vou me cobrar”.
No fim do ano, as críticas sobre o trabalho de Pimenta se intensificaram entre os aliados de Lula, conforme o site “O Antagonista”. O ministro é apontado como um dos grandes responsáveis pelos problemas do governo Lula, que admite apenas uma falha em seu governo: a dificuldade de se comunicar, que impede a população brasileira de enxergar as maravilhas que o petista imagina estar fazendo. Lula chegou a reclamar da comunicação durante um seminário promovido pelo Partido dos Trabalhadores, exortando os companheiros de legenda a se empenharem mais na defesa do seu governo. O fim da era Pimenta também marca, conforme “O Antagonista”, uma vitória da primeira-dama Janja da Silva, que tenta impor a própria visão de comunicação institucional. Para ela, Lula precisa aparecer mais e ser mais combativo nas redes sociais. Seja como for, a operação para a reeleição de Lula parece deflagrada em diversas frentes na órbita do Palácio do Planalto.