Nonato Guedes
O deputado federal Hugo Motta, do Republicanos, candidato favorito à presidência da Câmara na eleição de fevereiro, confirmou, em João Pessoa, que há discussões a partir de Brasília sobre a formação de uma federação partidária que seria integrada pela legenda a que é filiado, pelo União Brasil e pelo Progressistas. Juntos, os partidos teriam condições de se tornar o maior bloco do Congresso Nacional, podendo chegar às eleições de 2026 com pelo menos duzentos expoentes. Hugo Motta alertou, porém, que precisam ser levadas em conta as realidades políticas dos Estados, diante de divergências pontuais entre os partidos citados. Na Paraíba, por exemplo, o PP e o Republicanos são aliados do governador João Azevêdo (PSB), enquanto o União Brasil, liderado pelo senador Efraim Filho, está na oposição e agregado ao PSDB do ex-governador Cássio Cunha Lima. “A convergência é sempre bem-vinda, mas, nesse caso, a ideia precisa amadurecer melhor para respeitar essas peculiaridades”, definiu Hugo Motta.
De acordo com ele, a proposta de fusão não é necessariamente nova e chegou a ser agitada no plano nacional antes mesmo das eleições municipais de 2024, mas as coisas esfriaram e somente agora está sendo retomado o debate. Em paralelo, o PSDB nacional, através do presidente Marconi Perillo, informou que vai decidir em fevereiro sobre uma eventual fusão do partido. Os tucanos já estão conversando com pelo menos quatro partidos – o MDB, o PSD, o Podemos e o Republicanos e acenam com um fundo eleitoral estimado em R$ 147 mi. Além da fusão, a incorporação ou revisão da federação formada desde 2022 com o Cidadania são outros desfechos possíveis. Parlamentares e ex-governadores do PSDB têm feito reuniões e sido consultados sobre a mudança, conforme Marconi Perillo. O deputado federal Aécio Neves chegou a convocar uma reunião no final do ano passado com o presidente do MDB, Baleia Rossi, e também discutiu o tema com a presidente do Podemos, Renata Abreu. Além de três governadores – Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, Raquel Lyra, de Pernambuco, e Eduardo Riedel (MS), os tucanos possuem 13 cadeiras na Câmara dos Deputados e um senador, Plínio Valério, do Amazonas. A legenda que se unir a eles leva, também, o tempo de TV do qual a legenda dispõe na propaganda partidária e aquela veiculada no período eleitoral.
O UOL revela que os benefícios do PSDB são estratégicos para o partido nas eleições gerais de 2026 e que, por isso, mesmo com o desempenho pífio da legenda no último pleito, os tucanos têm sido cortejados por grandes siglas como o PSD e o MDB em nível nacional. Renato Ribeiro de Almeida, coordenador da Academia Brasileira de Direito Eleitoral, explica: “Eles unem recursos humanos e até recursos financeiros para atuarem com maior força nas próximas eleições. Os partidos que decidem por uma fusão têm maior robustez para o cenário competitivo com as demais agremiações”. Marconi Perillo, presidente da federação PSDB-Cidadania, afiançou: “Estamos conversando internamente e com vários partidos que têm nos procurado. A decisão que tomamos é que a gente vai aprofundar esse diálogo interno e externo após a retomada dos trabalhos do Congresso Nacional. Em fevereiro, pretendemos anunciar alguma decisão”. Uma fonte do PSDB confessou que, sem grandes nomes, a legenda perde poder de barganha nas negociações em curso. Por outro lado, há interesse dos governadores em usar o movimento para se aproximar do presidente Lula, com exceção de Eduardo Leite.
A governadora Raquel Lyra, que é integrante do “Consórcio Nordeste”, avaliou em declarações à “Folha de São Paulo” que o PSDB “foi ficando pequeno” na conjuntura nacional. Para ela, a situação mostra que “algo está errado”, mas a governadora não quis confirmar rumores sobre sua ida para o PSD, hipótese que é tratada como viável nos bastidores. O governador Eduardo Riedel é outro que deve migrar para o partido de Gilberto Kassab. Com toda a movimentação em curso, alguns líderes tucanos negam que a fusão possa acontecer por medo de perder governadores. Perillo disse ao UOL que o partido trabalha para que a mudança “seja coletiva, e não individual ou de forma oportunista”. O PSDB tem perdido protagonismo desde as eleições de 2022. Na ocasião, Rodrigo Garcia (hoje sem partido) não passou para o segundo turno na disputa pelo governo de São Paulo. Depois de 27 anos, o partido pela primeira vez deixou de governar o Estado paulista. No ano passado, a legenda perdeu toda a sua bancada na Câmara de Vereadores paulistana. As negociações envolvem disputas locais. Aécio Neves garante: “O PSDB não deve e não vai tomar decisões pautadas em questões locais. Vamos pensar e focar no que o Brasil quer e precisa. Quando isso ocorreu (pensar na disputa local) deu no que deu e saímos do jogo político”.
Na Paraíba, o senador Efraim Filho, que já se lançou pré-candidato ao governo pelo União Brasil, tem investido na aproximação com líderes que atualmente estão na base de apoio do governador João Azevêdo (PSB) como parte da sua estratégia de “rachar” o bloco governista e fortalecer sua própria pretensão. Assim é que ele tem feito acenos ao Republicanos, onde o deputado estadual Adriano Galdino também se lançou pré-candidato ao governo, e ao PP, que tem o vice-governador Lucas Ribeiro e o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, como opções para a disputa majoritária. É diante da confusão de cenários que o deputado Hugo Motta preconiza aprofundamento das discussões sobre a viabilidade, ou não, de formação de federação partidária.